O número de mortes por doenças cardíacas cresceu desde o início da pandemia
De acordo com um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Hospital Alberto Urquiza Wanderley e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), só no Brasil, durante a atual pandemia da Covid-19, o número de mortes por doenças cardiovasculares cresceu até 132%.
Apesar de que a Covid pode causar danos ao coração, em grande parte dos casos, são quadros agudos sem relação com o vírus, mas que não houve tempo de socorro. Ao ponto que crescem os casos, o índice de procura aos hospitais com atendimentos cardiológicos vem caindo.
Já podemos configurar as doenças do sistema cardiovascular como uma das principais causas de morte no mundo todo.
Muitos casos são agravados devido à falta de procura ou acompanhamento médico. Com medo do vírus, muitos pacientes têm evitado os hospitais e clínicas com medo do novo coronavírus.
Confira a entrevista com o médico cardiologista, Dr. Márcio Couto:
Existe uma correlação efetiva da Covid-19 sobre a saúde do coração?
Com certeza, a Covid determinou que as pessoas ficassem isoladas, e com isso, boa parte dos pacientes cardiológicos, não fizeram seus exames periódicos. Muitos estão há mais de um ano sem procurar um médico. Relaxaram, descuidaram das doenças do seu coração, principalmente pressão alta, insuficiência cardíaca e doença coronariana, que determinam em infarto, crise de angina e até morte súbita.
Os cardiologistas relatam que de 30% a 50% dos pacientes cardiológicos não voltaram para suas atualizações periódicas e por outro lado a Covid tem se manifestado nos casos de cardite, levando a insuficiência cardíaca, pericardite e provocando problemas até em pessoas jovens, que até então não tinham problema nenhum no coração. O novo coronavírus, além de provocar doença nos pulmões nos rins, também afeta o coração.
Os cardiopatas são grupo de risco, então quais os principais perigos para os que contraem o vírus?
As pesquisas tem mostrado em todo o mundo desde o início, que principalmente os hipertensos, estão no grupo prevalente das pessoas afetadas. A moléstia mais comum que afeta o coração é a hipertensão, atinge as pessoas de mais idade. Por isso há uma relação entre a idade e a moléstia da hipertensão arterial que acaba levando a insuficiência cardíaca, sendo esta a principal causa, junto com a doença coronariana, associadas ao excesso de gordura. E a prevenção disso é manter seus exames periódicos e o tratamento precoce que também é muito importante. Quanto mais precoce o tratamento para pessoas com essas comorbidades, onde entra também a diabetes que é outro fator de risco. E por causa dessa ausência de procura, tiveram essas doenças maximizadas.
Até mesmo quem não tem problemas, por causa das preocupações,ansiedades, estresse mental e essa carga de informações da grande mídia que não tem poupado nem atenuado das notícias diárias. Isso não ajuda o cidadão.
O senhor acredita que o lockdown tenha algum efeito sobre esse aumento nos casos de morte por doenças cardiovasculares?
Acredito que em algum momento, em alguns locais determinados, o lockdown possa ser interessante. No Brasil várias pesquisas e até autoridades sanitárias, tem comentado que aqui é difícil, pois o pessoal não adere. E muitas vezes até pela questão de sobrevivência.
Por outro lado, tem que manter a economia girando, se não criamos outros problemas. Basta ver que a pobreza aumentou no Brasil em índice gigantesco em função da pandemia, por isso o lockdown tem que ser muito bem pensado. Em alguns momentos penso ser interessante, mas deve ser analisado em cada estado. Temos que aguardar o futuro e esperar que não venha uma terceira onda pelo atraso da campanha de vacinação, a falta de vacina no mercado mundial.
A falta de procura ao médico por medo do vírus interfere nesse número de mortes?
Isso foi demonstrado em várias pesquisas, o que ouve uma melhora em função da vacinação dos idosos que estão retornando aos consultórios, então teremos uma queda no número de complicações, internações, infarto, insuficiência cardíaca, mas isso gradativamente pois ainda estamos longe do ideal.
Para quem não tem nenhuma doença cardiovascular, quais os principais cuidados para evitar desenvolvê-las?
Buscar bons hábitos de vida, se alimentar bem, não em quantidade, mas em qualidade, reduzindo gordura, evitar excesso de álcool, não fumar, fazer atividades físicas periodicamente, de três a cinco vezes por semana. De preferência uma atividade física que gosta de fazer e se possível acompanhado de pessoas queridas.
Também evitar o estresse, procurar resolver os problemas, buscar levar a vida da melhor maneira possível, uns cuidando dos outros, fortalecendo os vínculos familiares e de amizade mesmo com as dificuldades de se encontrar.
E os que tem problemas, manter seus tratamentos em dia. E ao sinal de dor no peito, falta de ar, cansaço, inchaço ou pressão descontrolada, iniciar seu tratamento precoce para que possam ter uma melhor qualidade de vida.